A hipnose, utilizada como anestésico desde o século XIX,está voltando aos hospitais. Será que ela funciona?
Em alguns hospitais da Europa, a cena é cada vez mais comum. A paciente entra na sala de cirurgia para uma operação simples. Uma extração de tireóide, por exemplo. A equipe está a postos. Cirurgião, instrumentadora e... hipnotizador. Isso mesmo. Em vez de receber anestesia geral, a mulher fica acordada, de olhos fechados e obedece às instruções repetitivas:
- Você está sentindo seu pescoço relaxado, muito relaxado. Ele está muito relaxado, mais relaxado agora. Estou contando até dez. Um, dois, três… Quando chegar ao dez, seu pescoço vai estar adormecido, muito adormecido. Quatro, cinco, seis… Tão adormecido que será impossível senti-lo. Será impossível sentir seu pescoço quando eu chegar ao dez. Sete, oito, nove, dez. É impossível sentir seu pescoço. Agora você está na praia. Deitada na areia. O sol aquece seu corpo e você sente o calor da areia.
Parece charlatanismo puro. Mas os pesquisadores têm demonstrado que a hipnose pode substituir, ou complementar, a anestesia em alguns casos. A hipnose é uma ilusão imposta ao cérebro por meio de diferentes técnicas de sugestão. Elas provocam um estado alterado de consciência, conhecido como transe. Durante a cirurgia, o hipnotizador tira a atenção do paciente da parte do corpo que está sendo operada. Ele imagina que está em um lugar agradável. E, durante o transe, o cérebro deixa de interpretar a mensagem da dor.
A hipnose, porém, tem uma enorme limitação. 'Apenas 10% dos pacientes entram em transe profundo, necessário para não sentir dor durante a cirurgia', diz David Rogerson, anestesista que pratica hipnose no Derby City General Hospital, no Reino Unido.
A técnica foi utilizada pela primeira vez numa cirurgia em 1845, em Calcutá, na Índia. Mas, com a adoção do éter como anestésico no ano seguinte, a hipnose passou a ser ignorada pela maioria dos cirurgiões. Agora, os neurocientistas começam a explicar como a hipnose é capaz de reduzir ou eliminar a sensação de dor. Um estudo recente realizado com imagens de ressonância magnética pela Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, revelou que a área do cérebro responsável pela identificação da dor fica com o funcionamento comprometido durante a hipnose.
Por que, então, ela volta a chamar a atenção em pleno século XXI, quando uma série de anestésicos modernos pode dar conta do serviço? O objetivo é justamente reduzir os efeitos colaterais desses produtos. Uma das principais adeptas da hipnose na sala de cirurgia é a anestesista Marie-Elisabeth Faymonville, do Hospital Universitário de Liège, na Bélgica. Ela criou um método híbrido, chamado hipnossedação. A técnica substitui a anestesia geral ao misturar hipnose e anestesia local. A equipe dela já realizou mais de 5 mil cirurgias com esse tipo de sedação. Os pacientes não sentem dor nem efeitos colaterais típicos da anestesia geral, como náusea, fadiga e dificuldades motoras e cognitivas.
A hipnose também tem sido adotada em hospitais do Reino Unido e em algumas instituições americanas. Mas é pouquíssimo difundida no Brasil. 'Não existe hipnose na tabela de procedimentos dos planos de saúde. Se o anestesista não aplicar uma droga no paciente, ele não recebe o pagamento', diz o ginecologista Osmar Colás, coordenador do Grupo de Estudos de Hipnose da Unifesp.
Há outras dificuldades. Para entrar em transe profundo durante a operação, o paciente precisa ser preparado no consultório. Em alguns casos, são necessárias várias sessões de uma hora e meia cada uma. Finalmente, existe a questão cultural. A não ser em situações especiais - pacientes alérgicos à anestesia convencional ou apavorados com o risco de morte (um em cada 200 mil) -, a maioria dos brasileiros detesta a idéia de estar consciente durante uma cirurgia. Preferem tomar uma injeção e só acordar quando tudo estiver terminado.
- Você está sentindo seu pescoço relaxado, muito relaxado. Ele está muito relaxado, mais relaxado agora. Estou contando até dez. Um, dois, três… Quando chegar ao dez, seu pescoço vai estar adormecido, muito adormecido. Quatro, cinco, seis… Tão adormecido que será impossível senti-lo. Será impossível sentir seu pescoço quando eu chegar ao dez. Sete, oito, nove, dez. É impossível sentir seu pescoço. Agora você está na praia. Deitada na areia. O sol aquece seu corpo e você sente o calor da areia.
Parece charlatanismo puro. Mas os pesquisadores têm demonstrado que a hipnose pode substituir, ou complementar, a anestesia em alguns casos. A hipnose é uma ilusão imposta ao cérebro por meio de diferentes técnicas de sugestão. Elas provocam um estado alterado de consciência, conhecido como transe. Durante a cirurgia, o hipnotizador tira a atenção do paciente da parte do corpo que está sendo operada. Ele imagina que está em um lugar agradável. E, durante o transe, o cérebro deixa de interpretar a mensagem da dor.
A hipnose, porém, tem uma enorme limitação. 'Apenas 10% dos pacientes entram em transe profundo, necessário para não sentir dor durante a cirurgia', diz David Rogerson, anestesista que pratica hipnose no Derby City General Hospital, no Reino Unido.
A técnica foi utilizada pela primeira vez numa cirurgia em 1845, em Calcutá, na Índia. Mas, com a adoção do éter como anestésico no ano seguinte, a hipnose passou a ser ignorada pela maioria dos cirurgiões. Agora, os neurocientistas começam a explicar como a hipnose é capaz de reduzir ou eliminar a sensação de dor. Um estudo recente realizado com imagens de ressonância magnética pela Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, revelou que a área do cérebro responsável pela identificação da dor fica com o funcionamento comprometido durante a hipnose.
Por que, então, ela volta a chamar a atenção em pleno século XXI, quando uma série de anestésicos modernos pode dar conta do serviço? O objetivo é justamente reduzir os efeitos colaterais desses produtos. Uma das principais adeptas da hipnose na sala de cirurgia é a anestesista Marie-Elisabeth Faymonville, do Hospital Universitário de Liège, na Bélgica. Ela criou um método híbrido, chamado hipnossedação. A técnica substitui a anestesia geral ao misturar hipnose e anestesia local. A equipe dela já realizou mais de 5 mil cirurgias com esse tipo de sedação. Os pacientes não sentem dor nem efeitos colaterais típicos da anestesia geral, como náusea, fadiga e dificuldades motoras e cognitivas.
A hipnose também tem sido adotada em hospitais do Reino Unido e em algumas instituições americanas. Mas é pouquíssimo difundida no Brasil. 'Não existe hipnose na tabela de procedimentos dos planos de saúde. Se o anestesista não aplicar uma droga no paciente, ele não recebe o pagamento', diz o ginecologista Osmar Colás, coordenador do Grupo de Estudos de Hipnose da Unifesp.
Há outras dificuldades. Para entrar em transe profundo durante a operação, o paciente precisa ser preparado no consultório. Em alguns casos, são necessárias várias sessões de uma hora e meia cada uma. Finalmente, existe a questão cultural. A não ser em situações especiais - pacientes alérgicos à anestesia convencional ou apavorados com o risco de morte (um em cada 200 mil) -, a maioria dos brasileiros detesta a idéia de estar consciente durante uma cirurgia. Preferem tomar uma injeção e só acordar quando tudo estiver terminado.
O MECANISMO DA ILUSÃOComo a hipnose age no cérebro
O QUE É A HIPNOSE:é uma ilusão imposta ao cérebro por meiode técnicas de sugestão que provocamum estado alterado de consciência.O médico utiliza contagem regressiva ou outros métodos para induzir o paciente ao transe
1 - No início da hipnose, boa parte do hemisfério esquerdo do cérebro é ativada. A sensação é de relaxamento
2 - Em seguida, são acionadas as áreas responsáveis pela informação visual. A imaginação do paciente é estimulada
3 - No transe profundo, a área conhecida como sistema límbico é ativada. Isso pode resultar em diminuição da dor