28 setembro 2009

VOCÊ ESTÁ QUASE A DORMIR




A hipnose, utilizada como anestésico desde o século XIX,está voltando aos hospitais. Será que ela funciona?




Em alguns hospitais da Europa, a cena é cada vez mais comum. A paciente entra na sala de cirurgia para uma operação simples. Uma extração de tireóide, por exemplo. A equipe está a postos. Cirurgião, instrumentadora e... hipnotizador. Isso mesmo. Em vez de receber anestesia geral, a mulher fica acordada, de olhos fechados e obedece às instruções repetitivas:
- Você está sentindo seu pescoço relaxado, muito relaxado. Ele está muito relaxado, mais relaxado agora. Estou contando até dez. Um, dois, três… Quando chegar ao dez, seu pescoço vai estar adormecido, muito adormecido. Quatro, cinco, seis… Tão adormecido que será impossível senti-lo. Será impossível sentir seu pescoço quando eu chegar ao dez. Sete, oito, nove, dez. É impossível sentir seu pescoço. Agora você está na praia. Deitada na areia. O sol aquece seu corpo e você sente o calor da areia.
Parece charlatanismo puro. Mas os pesquisadores têm demonstrado que a hipnose pode substituir, ou complementar, a anestesia em alguns casos. A hipnose é uma ilusão imposta ao cérebro por meio de diferentes técnicas de sugestão. Elas provocam um estado alterado de consciência, conhecido como transe. Durante a cirurgia, o hipnotizador tira a atenção do paciente da parte do corpo que está sendo operada. Ele imagina que está em um lugar agradável. E, durante o transe, o cérebro deixa de interpretar a mensagem da dor.
A hipnose, porém, tem uma enorme limitação. 'Apenas 10% dos pacientes entram em transe profundo, necessário para não sentir dor durante a cirurgia', diz David Rogerson, anestesista que pratica hipnose no Derby City General Hospital, no Reino Unido.
A técnica foi utilizada pela primeira vez numa cirurgia em 1845, em Calcutá, na Índia. Mas, com a adoção do éter como anestésico no ano seguinte, a hipnose passou a ser ignorada pela maioria dos cirurgiões. Agora, os neurocientistas começam a explicar como a hipnose é capaz de reduzir ou eliminar a sensação de dor. Um estudo recente realizado com imagens de ressonância magnética pela Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, revelou que a área do cérebro responsável pela identificação da dor fica com o funcionamento comprometido durante a hipnose.
Por que, então, ela volta a chamar a atenção em pleno século XXI, quando uma série de anestésicos modernos pode dar conta do serviço? O objetivo é justamente reduzir os efeitos colaterais desses produtos. Uma das principais adeptas da hipnose na sala de cirurgia é a anestesista Marie-Elisabeth Faymonville, do Hospital Universitário de Liège, na Bélgica. Ela criou um método híbrido, chamado hipnossedação. A técnica substitui a anestesia geral ao misturar hipnose e anestesia local. A equipe dela já realizou mais de 5 mil cirurgias com esse tipo de sedação. Os pacientes não sentem dor nem efeitos colaterais típicos da anestesia geral, como náusea, fadiga e dificuldades motoras e cognitivas.
A hipnose também tem sido adotada em hospitais do Reino Unido e em algumas instituições americanas. Mas é pouquíssimo difundida no Brasil. 'Não existe hipnose na tabela de procedimentos dos planos de saúde. Se o anestesista não aplicar uma droga no paciente, ele não recebe o pagamento', diz o ginecologista Osmar Colás, coordenador do Grupo de Estudos de Hipnose da Unifesp.
Há outras dificuldades. Para entrar em transe profundo durante a operação, o paciente precisa ser preparado no consultório. Em alguns casos, são necessárias várias sessões de uma hora e meia cada uma. Finalmente, existe a questão cultural. A não ser em situações especiais - pacientes alérgicos à anestesia convencional ou apavorados com o risco de morte (um em cada 200 mil) -, a maioria dos brasileiros detesta a idéia de estar consciente durante uma cirurgia. Preferem tomar uma injeção e só acordar quando tudo estiver terminado.


O MECANISMO DA ILUSÃOComo a hipnose age no cérebro
O QUE É A HIPNOSE:é uma ilusão imposta ao cérebro por meiode técnicas de sugestão que provocamum estado alterado de consciência.O médico utiliza contagem regressiva ou outros métodos para induzir o paciente ao transe


1 - No início da hipnose, boa parte do hemisfério esquerdo do cérebro é ativada. A sensação é de relaxamento
2 - Em seguida, são acionadas as áreas responsáveis pela informação visual. A imaginação do paciente é estimulada
3 - No transe profundo, a área conhecida como sistema límbico é ativada. Isso pode resultar em diminuição da dor

A Hipnose é reconhecida e adotada pela Medicina




Primeiro foi a acupuntura. Agora, é a vez de a hipnose ser finalmente reconhecida e adotada pela medicina. O método começa a figurar entre o arsenal de recursos oferecidos por instituições de renome no mundo todo. É usado, por exemplo, no Memorial Sloan- Kettering Cancer Center e no M. D. Anderson Cancer Center, dois dos mais importantes centros de tratamento e pesquisa da doença, para diminuir efeitos colaterais da quimioterapia, como a fadiga e a dor. Também é utilizada no Hospital de Liège, na Bélgica, como opção de analgesia. No Brasil não é diferente. Já faz parte da rotina de serviços de primeira grandeza como o Hospital A. C. Camargo, de São Paulo, especializado na luta contra o câncer, e ganhou espaço no Hospital das Clínicas de São Paulo (HC/SP), a instituição que serve de escola para os estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). As indicações também são amplas.Só para citar algumas, além do câncer: dor crônica, transtorno do pânico, asma, tensão pré-menstrual, enxaqueca, analgesia em procedimentos dentários, alergias, problemas digestivos de fundo nervoso, fobias e insônia.Esta entrada definitiva da hipnose pela porta da frente da medicina não ocorreu por acaso. O movimento está sustentado por uma gama de estudos comprovando sua eficácia nas mais variadas enfermidades. Um dos mais recentes foi conduzido na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e provou que o método pode ser usado com sucesso no diagnóstico de crianças com epilepsia. Os cientistas queriam saber se as oito participantes tinham mesmo crises da doença ou manifestavam os sintomas - muito parecidos com os provocados pela enfermidade - por causa de outros fatores, como stress profundo. Eles levaram as crianças a um estado hipnótico e as fizeram imaginar que estavam tendo uma crise. Enquanto isso, elas eram monitoradas por aparelhos de exame de imagem. Em todas, as áreas ativadas durante o transe não foram as tradicionalmente associadas à epilepsia. A conclusão foi a de que as crianças de fato não tinham a doença. Agora, os cientistas querem ensinar os pequenos a evitar as crises usando a hipnose.Outro trabalho de resultado expressivo foi apresentado no congresso do Colégio Americano de Pneumologia, realizado no final do ano passado nos Estados Unidos. Coordenado por médicos do Massachusetts General Hospital, o estudo revelou que pacientes hospitalizados com doenças cardíacas submetidos a apenas uma sessão de hipnose tinham maiores chances de vencer a luta contra o tabagismo após seis meses do que aqueles que usavam adesivos para repor a nicotina. "Constatamos que a hipnoterapia está entre as melhores opções terapêuticas contra o cigarro", afirmou Faysal Hasan, líder do trabalho. No Beth Israel Deaconess Medical Center e na Faculdade de Medicina de Harvard (EUA), pesquisadores constataram que a técnica tornou mais confortável e menos dolorosa a realização de biópsia de nódulos de mama. "A hipnose ajuda muito a diminuir o stress das mulheres que precisam passar por essa experiência", disse Elvira Lang, professora de radiologia de Harvard. No Brasil, as pesquisas sobre os possíveis benefícios também começam a proliferar. Na Faculdade de Medicina da USP, campus de Ribeirão Preto, os médicos verificaram seu efeito como terapia auxiliar contra a dor de cabeça persistente. "Os resultados foram muito promissores. A hipnose pode ser um tratamento coadjuvante nesses casos", afirma o neurologista José Geraldo Speciali, professor do departamento de neurologia da universidade.Hospitais do Brasil e do Exterior usam o método no tratamento de sintomas de doenças como câncer, asma ou insôniaConclusões como essas estão motivando investigações mais profundas sobre os mecanismos pelos quais o método produz resultados. A explicação mais plausível obtida até agora é a de que a hipnose provoca modificações profundas no funcionamento do cérebro, alterações essas documentadas por exames de imagem precisos e sofisticados. Os achados derrubam por terra, de vez, a associação equivocada da técnica com algo místico, esotérico. Não é nada disso. Hoje, o conceito médico de hipnose é claro: trata-se de um estado alterado de consciência induzido por profissionais capacitados. Nesse estado, há mudanças nos padrões das ondas cerebrais e várias estruturas do órgão são ativadas com maior intensidade, em especial as relacionadas à memória e às emoções.O objetivo é atingir um nível máximo de atenção para extrair da mente o que for preciso para ajudar no tratamento, aproveitando que as condições cerebrais obtidas deixam o paciente com maior abertura para ser sugestionado. "A pessoa desvia a atenção dos estímulos externos e a crítica diminui. Ela passa a entender e aceitar melhor as sugestões dadas pelo hipnólogo", explica o médico Osmar Colás, coordenador do grupo de estudos de hipnose do departamento de psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Um trabalho muito interessante comprovou quanto os indivíduos de fato ficam abertos à sugestão, chegando a enganar o próprio cérebro nesse processo. O neuropsicólogo Stephen Kosslyn, da Universidade de Harvard, induziu voluntários hipnotizados a enxergarem cor em um painel totalmente cinza. Nos exames de imagem, verificou que as áreas cerebrais ativadas foram exatamente as acionadas para a percepção de cores variadas. Um exemplo prático desse processo pode ser visto nos passos tomados para o tratamento da dor. "É preciso fazer com que o paciente saia do foco da dor. Por meio da hipnose, ele deve ser levado a se concentrar em estímulos de relaxamento e sensações prazerosas, fazendo com que se esqueça o máximo possível da sensação de desconforto", explica a psiquiatra Célia Lídia Costa, do Hospital A. C. Camargo. Mas essa não é a única possibilidade. "Pode-se modificar a percepção de uma dor intensa para uma sensação de peso ou formigamento ou reduzir o tamanho da área dolorida para apenas uma parte", diz o clínico e psicoterapeuta João Figueiró, do Centro Multidisciplinar de Dor do HC/SP. De acordo com David Spiegel, pesquisador do Instituto de Neurociência da Universidade de Stanford, a alteração no entendimento do que ocorre também traz outro benefício, além de maior conforto: "O método reduz a ansiedade que normalmente acompanha os episódios de dor", Um alerta importante: os profissionais sérios jamais tratam dores cujas causas não tenham sido identificadas.Fonte: Revista Isto éDepresão e HipnoseA depressão se apresenta como uma falta de gosto pela vida, como um transtorno afetivo e do humor. O indivíduo depressivo normalmente tem uma visão distorcida da realidade e não consegue perceber um futuro que seja prazeroso. Apresenta apatia frente aos diferentes estímulos que a vida lhe apresenta. A depressão é uma alteração no pensamento, uma quebra de raciocínios que antes seguiam uma linha e que agora mediante a este novo estado, começa a pensar e sentir de uma forma até mesmo incoerente. Perdendo um pouco o próprio sentido da vida, suas motivações e objetivos enquanto Ser Humano. Este transtorno não é apenas psíquico, também é físico na medida que há uma baixa na produção de serotonina, o hormônio que proporciona as sensações de prazer no corpo, sendo as vezes necessário medicamentos. Isso acontece na medida em que métodos de psicoterapia não são suficientes ou ter procurado um profissional depois de um certo tempo do sintoma se manifestar. A hipnose, possibilita diferentes articulações do pensar, o que pode proporcionar mudanças específicas, onde o indivíduo ao vir pensando de uma certa forma, um pensamento viciado, ou mesmo contagiado pelo problema da depressão, pode modificá-lo. O paciente precisa ver transformada suas formas de perceber a si mesmo, o mundo e seu próprio futuro; Do negativo para o positivo. Com a hipnose, é possível coloca-lo em diferentes situações no presente e futuro, onde possa se imaginar já com uma nova realidade. Ver-se em diferentes situações: em casa, com familiares, amigos, no trabalho, na rua ou no clube. O interessante é cobrir o máximo de possibilidades onde o paciente possa se ver nas mudanças de hábitos, pensamentos, comportamentos e nas suas diferentes interações humanas. Na hipnose, também tem-se a possibilidade do transe, que é um pensamento direcionado, este proporcionará com ainda maior facilidade a mudança. Desta forma pode-se ajudar o paciente a reaprender ou mesmo aprender novas formas de reagir frente aos diferentes estímulos, que até então eram de apatia. Como mais gosto, mais prazer, voltando à sua vida normal, conquistando um viver mais equilibrado.